No mundo todo, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas por ano. Enquanto isso, quase 1 bilhão de pessoas no planeta sofrem de desnutrição crônica e 124 milhões necessitaram de assistência alimentar de emergência em 2017, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês). No Brasil não há dados concretos do quanto é jogado fora, de acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A entidade tem uma página para tratar só deste assunto e afirma que a falta de coleta de informações precisas de maneira padronizada impossibilita qualquer estimativa exata sobre o desperdício de alimentos no país. Entretanto, o número deve ser assustador se levarmos em conta a extensão do território nacional e as inúmeras deficiências estruturais na colheita, no armazenamento e transporte. O que se sabe, segundo o Instituto Akatu, é que cada brasileiro gera aproximadamente um quilo de resíduos sólidos por dia, do qual mais da metade é orgânica, como restos de comida. Já a FAO estima que seja de até 40% o desperdício no Brasil no caminho entre a colheita e o consumidor. Os cálculos já realizados por diversas entidades mostram que a quantidade no país é de dezenas de toneladas.

Todos esses números servem para pensar se a fome no mundo é causada por uma produção insuficiente de alimentos ou se é por má distribuição. A FAO reforça que o motivo é a segunda opção. Se você ainda não se convenceu sobre a importância de mudar os hábitos, talvez mude de ideia ao sentir no bolso. O Instituto Akatu publicou em dezembro de 2017 um cálculo que mostra que é possível economizar 1 milhão de reais se reduzir o desperdício. O raciocínio é: uma família que gasta, em média, R$ 650,00 por mês em comida e desperdiça quase um terço disso, “joga fora” mais de R$ 180 por mês, ou 5% do seu orçamento mensal. Se o desperdício da mesma família caísse pela metade, seriam economizados R$ 91,20 por mês, ou quase R$ 1.095 ao ano. Se esse dinheiro fosse depositado mensalmente em uma poupança com rendimento anual de 6%, ao final de 70 anos renderia mais de um milhão de reais. Impressionante, não?
Diversas campanhas surgem pelo país a fim de minimizar o problema, uma delas é a Campanha Prato Limpo, em São Paulo. Criada pela LC Restaurantes, empresa de refeições coletivas que atende restaurantes corporativos, os organizadores afirmam já terem conseguido diminuir cerca de 60% da quantidade de alimentos que vai para a lixeira desde a sua criação, em 2011. A medida é simples: cada cliente, no caso a empresa contratante que serve as refeições aos funcionários, deve medir o que sobra da produção e nos pratos. Se os valores não atingirem a meta de 15 gramas por refeição e 30 por produção, a LC implanta no local a Campanha Prato Limpo, em que fiscalizam de perto. Os cozinheiros têm ainda workshops sobre preparações mais conscientes, aproveitando cada ingrediente ao máximo. Considerando que só a LC processa 44 toneladas de alimentos por dia e serve em média 3.200.000 refeições por mês, podemos ter idéia da quantidade de comida que é poupada.

Há também supermercados que vendem produtos próximos da data vencimento com descontos que chegam, muitas vezes, a mais de 50%. Eu mesma costumo conferir o que há, e sempre tem alguns achados especiais. No Rio de Janeiro, por exemplo, foi sancionada em 2016 uma lei estadual que determina que “alimentos feios” sejam vendidos com pelo menos 30% de desconto. Neste quesito se encaixam frutas, verduras e legumes que, embora não tenham mais apelo comercial por estarem machucados, por exemplo, ainda são seguros para consumo.
Não só empresas e orgãos públicos se mobilizam, mas também pessoas simples, gente como a gente. O aplicativo Olio foi criado para ser uma nova plataforma de compartilhamento. Ele permite que pessoas anunciem seus “restos” para quem está na região e marquem a entrega. Pode ser desde o pedaço que sobrou da lasanha do dia anterior até aquela barra de chocolate que você comprou e se arrependeu por causa da dieta. Ele é bastante usado em países como Suécia, Estados Unidos e Reino Unido. Se você der sorte, pode ter um chef pertinho da sua casa precisando dar um destino para aquele prato maravilhoso. O aplicativo é gratuito e está disponível no Google Play Store e na App Store, no entanto, ainda não há versão em português, apenas em inglês.
Tudo isso sem contar os Bancos de Alimentos e diversas outras campanhas país afora pela erradicação da fome. Já existe a meta global assinada por diversos países para reduzir 50% do desperdício até 2030, mas esse é o tipo de questão que realmente depende de cada um. Há diversos cursos gratuitos por aí, além de receitas na internet que ensinam como preparar um delicioso bolo de casca de banana, por exemplo. As soluções existem.